RESENHA HISTÓRICA E CONSTRUTIVA – CASA DO PENEDO

1 - LOCALIZAÇÃO E TOPONÍMIA

A CASA DO PENEDO, também conhecida por CASA DOS MOUROS, localiza-se na Trav. dos Mouros, na povoação de NOGUEIRA DO CRAVO, concelho de OLIVEIRA DO HOSPITAL, distrito de COIMBRA.
A designação de CASA DO PENEDO resulta do seu corpo principal, em forma de torre, estar construído sobre um grande penedo de granito, sendo a designação de CASA DOS MOUROS decorrente de tradicionalmente ser referido que a Torre foi construída pelos mouros.
Por influência desta Torre, o núcleo Nascente da povoação de Nogueira do Cravo é denominado “A TORRE”, enquanto o núcleo Poente é chamado “FUNDO DE VILA”. Pela mesma razão, também se chama a esta casa, “CASA DA TORRE”, se bem que esta denominação praticamente tenha desaparecido.



2 – DESCRIÇÃO DOS EDIFÍCIOS

A CASA DO PENEDO é constituída por dois corpos geminados de diferentes épocas de construção e um anexo isolado que alberga um lagar.
O corpo principal, em forma de torre, tem um implantação rectangular com as dimensões aproximadas de 8,0mx6,0m, e uma altura variável conforme o terreno envolvente, entre os 7,0 m – 12,0m. A entrada original é a Norte por uma porta que termina em arco de volta perfeita, possui uma janela na fachada Nascente de arquitectura “manuelina” e outra a Poente de dimensões menores e possivelmente anterior à primeira. As alvenarias em grandes blocos de granito são duplas, e têm larguras variáveis de 1,5m na base e 0,9m no topo.

Adossado na Fachada Norte da torre, foi construído um outro edifício de 6,0m de altura e implantação quadrada com as dimensões aproximadas de 6,5x6,5m, com dois pisos e acesso ao 1º piso, por balcão exterior, de arquitectura “manuelina”, bem como uma janela de iguais características e dimensões à existente na Torre também de arquitectura “manuelina”. As alvenarias nesta construção, maciças em pedra míuda e cascalho, com uma largura aprox. de 0,6m a 0,7m , terão sido revestidas em argamassa de cal/areia/saibro. As alvenarias têm ainda outros vãos e postigos de construção simples, que seriam os locais de confecção de alimentos, abrigo de animais ou de instalação sanitária rudimentar.

No pavimento térreo deste edifício apareceu, escavada numa rocha bastante mole, uma cavidade, em forma de cabaça, com cerca de 2m de diâmetro e 2m de altura. A entrada é por uma abertura circular de 0,5 m de diâmetro que estava tapada por uma laje de pedra e o seu interior encontrava-se sem qualquer resíduo. Não se sabe ao certo qual terá sido a sua utilização. Lateralmente a esta cavidade apareceram os vestígios de uma eventual sepultura antropomórfica.

Em anexo, desenvolve-se um outro edifício de r/c, com uma área bruta de 58 m2, tendo no seu interior um lagar, escavado, em parte, num penedo de granito e que se destinava ao fabrico de vinho. Não se sabe como seria inicialmente, porque deve ter sido objecto de várias alterações. Resta o contrapeso de uma “vara” e o local onde esta estaria fixa. No mesmo afloramento rochoso, na parte exterior, encontra-se a descoberto os restos do que terá sido uma “lagareta” muito vandalizada. Estas “lagaretas”, também eram utilizadas para o fabrico de vinho ou azeite de forma mais rudimentar.



3 – CRONOLOGIA DA CONSTRUÇÃO

Enquadramento histórico da origem
Depois dos Iberos, Fenícios e Gregos a Península Ibérica acabou por ser colonizada e dominada pelos Romanos. Após a queda de Numância no ano 133 a.C. os Romanos fundaram muitas terras e cidades como a “splendidissima civitas” romana da Bobadela (A 4Km da Casa do Penedo). Coimbra foi ocupada pelos Árabes em 715, até que em 1064 foi retomada, definitivamente, por Fernando Magno, ainda para o rei de Leão.
A igreja de Lourosa “moçárabe” (a cerca de 10Km da Casa do Penedo) é um tesmunho relevante da ocupação árabe na região.
No início da nossa nacionalidade Nogueira do Cravo terá sido uma povoação importante, porque lhe foi concedido o 1º foral, por D. Afonso Henriques, em 1177.

1ª Fase: Construção da TORRE – prov.sécs. VIII - IX
A TORRE sobranceira ao vale fértil/agrícola e no limite do povoado poderá ter sido construída durante a dominação árabe, entre os séculos VIII e IX, tendo como fim a vigia do local, não se conhecendo, no entanto, dados históricos concretos. No sentido descendente o referido vale conduz à Bobadela que fica a cerca de 4Km.
Há uma lenda que diz que esta Torre foi construída pelos árabes numa só noite.

Como o seu fim seria de “Vigia”, é provável que na sua parte superior tivesse um terraço e talvez também duas frestas onde agora estão as janelas. Este terraço seria em madeira com acesso, a partir da porta de entrada, por escada, também em madeira, pois interiormente não há sinal de qualquer outra construção, alem dos locais onde apoiaram os barrotes e dos vestígios de uma alvenaria de pedra na zona da entrada (possivelmente para facilitar o reforço interior e consequentemente dificultar o arrombamento da porta). A porta de entrada da TORRE, centrada na fachada norte e elevada cerca de 1,0m em relação ao terreno, é composta em cantaria de granito bem talhada e rematada por arco de volta perfeita, o que nos leva a pensar também ter sido removida de alguma construção romana das ruínas da Bobadela.

As alvenarias duplas são construídas em grandes blocos de granito, bem talhados, alguns com relevos ou estrias (eventuais cunhais ou cimalhas), outros cilíndricos (eventuais pilares), que mostram ter sido aproveitados de outras construções, provavelmente da “splendidissima civitas” romana da Bobadela, que se encontraria em ruínas desde a invasão dos “Bárbaros”. Estas alvenarias alicerçadas no penedo revelam ter sido executadas “à pressa” ou sem os artesãos especializados da época, pois são duplas mas mal travadas entre si e toda a fundação da alvenaria interior seria um “amontoado” de pedras e terra, sem qualquer tipo de regra. Regista-se no entanto que a elevada solidez das paredes decorre da sua grande espessura, da qualidade/dimensão dos blocos que a compoêm e ainda pelo facto de estarem construídas com inclinação para o interior, isto é, como se fosse um troço de “pirâmide”.

Nesta época estaria a ser utilizada a lagareta de construção eventualmente mais primitiva, cujos vestígios se encontram no exterior da edificação.

Assim, terá servido como “Torre de Vigia”, até terminarem as lutas, entre os árabes e os cristãos, com a tomada definitiva de Coimbra e sua região, em 1064, tendo ulteriormente deixado de ter a utilidade para o fim que tinha sido construída. Deduz-se que possa ter passado por um grande período de abandono até aos sécs. XVI-XVII, sem no entanto ter ruído por completo.

2ª Fase: Bloco adossado à fachada Norte da TORRE – prov.sécs.XVII-XVIII
Os possíveis proprietários da Torre são + ou – conhecidos, a partir do princípio do século XVI, ano de 1520 em que nasceu a sua 1ª proprietária/habitante conhecida (Ana de Unhão). Um dos filhos daquela 1ª proprietária, chamado Ascenso de Unhão, que habitou a Torre, ou algum dos sequentes habitantes da Torre até ao séc. XVIII terá executado grandes obras de restauro e ampliação. Poderemos pressupor que nesta época tenha sido construído o segundo bloco adossado à fachada norte da TORRE, composto por dois pisos em alvenaria de granito, em pedra míuda. Ressalva-se no entanto o Balcão, Porta principal e Janela a poente de arquitectura dita “manuelina” não condizentes com a restante construção, tanto pela qualidade da pedra como pela talha e proporções, pelo que se calcula terem sido recolhidas de outras edificações.
Para ligação à TORRE, foi aberto uma porta, ao nível do 1º piso e fechada a porta principal (a qual ficava a meia altura em relação ao pavimento do 1º piso desta nova construção).

Na TORRE terá sido construído ou reconstruído um pavimento em madeira, ao nível do 1º piso do novo edifício, um tecto também em madeira e rasgadas duas janelas, uma a Nascente (com cantarias “manuelinas” /igual à que se encontra na nova construção), e outra a Poente (de menores dimensões e com cantarias simples). Por cima das vergas destas janelas regista-se o enchimento com pedra míuda diferente da restante construção da torre. Terá ainda sido construído um telhado de duas águas na TORRE, onde inicialmente existiria um terraço. Não se sabe como seriam as divisões interiores.

Poderá ter sido construído nesta época o Lagar, escavado no mesmo afloramento rochoso, que se encontra no edifício anexo, construído em alvenaria simples de pedra.

3ª Fase: Acessos autónomos da TORRE e o 2º Edifício – prov.sécs.XIX-XX
No séc. XIX, os proprietários da Casa da TORRE deixaram de residir em Nogueira do Cravo. Eventualmente por essa razão, nesse século ou mesmo no seguinte, resolveram dividir a casa em duas habitações, para poderem arrendar a dois inquilinos.
Assim, construíram uma escada (em pedra miúda de má qualidade) adossada à parede Nascente da 2ª construção e abriram, nesta, uma porta ao nível do 1º andar mesmo no encosto à Torre, dando assim possibilidade de passagem independente para a TORRE.
Estas habitações foram divididas, interiormente, por taipais em réguas de madeira de pinho, tendo sido os eventuais espaços de confecção de alimentos, junto aos pequenos postigos da edificação, construídos no século XVIII. Foram assim utilizadas e habitadas por diversas famílias até meados do século XX, havendo ainda pessoas em Nogueira do Cravo que lá nasceram.
Regista-se ainda nesta época (Anos 70) a consolidação do Penedo por meio de contrafortes em alvenaria de pedra e betão, junto à estrada e na fachada sul (empena cega). Por curiosidade, uma das fendas do penedo chegou a ter implantada uma figueira.

4ª Fase: Obras de Conservação Recentes 1994-2009
Desde meados do século XX, a CASA DO PENEDO esteve desabitada, entrando as suas paredes e cobertura em início de ruína, tornando-se indispensável a realização de obras de consolidação das paredes e renovação da cobertura. A escada, que tinha sido construída junto à parede Nascente, acabou mesmo por ruir.
Foram consolidadas as paredes, as fundações, o próprio penedo e contrafortes de toda a construção, reabilitados os pavimentos, renovados os espaços de confecção de alimentos e de instalação sanitária (nos mesmos locais onde se encontravam originalmente). Foi reaberta a porta original de acesso à Torre, bem como dois vãos na 2ª Edificação que se encontravam fechados com cascalho e pedra miúda.
Foi inserido no R/C um novo pavimento em madeira elevado cerca 0,6m e com alçapões que permitem observar a caverna descoberta no subsolo.
Foram ainda demolidos todos os anexos em alvenaria de tijolo ou madeira, destinados ao abrigo de animais ou utensílios agrícolas. As construções eram recentes, de má qualidade e encontravam-se adossadas à construção primitiva ou na sua envolvência, dificultando claramente a leitura plástica e estética do conjunto edificado.
Estas obras, que permitiram criar as necessárias condições de conservação, segurança e habitabilidade, decorreram entre 1994 e 2009, foram projectadas e dirigidas pelo arquitecto Henrique Vaz Pato, seu proprietário, e executadas pelo mestre José Manuel da Costa Rodrigues.


4. OS PRIMEIROS RESIDENTES/PROPRIETÁRIOS

Os supostos primeiros residentes/proprietários conhecidos da Casa do Penedo têm origem no Século XVI.

- É possível que a TORRE já pertencesse a MARIA DE UNHÃO casada com BELCHIOR DIAS, ambos naturais de Nogueira do Cravo, e onde residiam na 1ª metade do século XVI.
- A segunda filha de Maria de Unhão e de Belchior Dias, chamada ANA DE UNHÃO, casada, em 1588, com GASPAR ÁLVARES, viveram na TORRE , em Nogueira do Cravo.
- O segundo filho de Ana de Unhão e Gaspar Álvares, chamado ASCENSO DE UNHÃO, casado, em 1619, com MARIA MARQUES DE ABREU, natural da Bobadela, viveram na CASA DA TORRE, em Nogueira do Cravo. Terão sido eles que fizeram as obras da CASA da TORRE, referidas na 2ª Fase das obras, para começar a habitar a Casa?

Estes elementos gealógicos foram recolhidos no livro Raízes da Beira de Eduardo Osório Gonçalves, onde se encontra este e outros temas associados mais desenvolvidos.



Nogueira do Cravo, Dezembro de 2009


endereço do IGESPAR: www.igespar.pt/patrimonio/pesquisa/geral/benscomproteccaolegal/detail/155814/

Comentários

  1. Boa tarde...agradecia informação de preco para fim de semana de 30 e 31 Maio para casal, com cozinha. Obrigado

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